11/09/2012

"Família"

Bem, eu nunca postei informações mais detalhadas sobre a minha host family, porque sempre sentia receio de alguma forma eles me lessem (noia). Eu já tinha um rascunhos sobre isso (de fevereiro!) e agora vai ser bom reler o que tinha escrito e comparar com a minha atual visão sobre cada um.

Muitas pessoas me perguntaram sobre eles, eu acho que é importante visto que eu vivo e trabalho pra eles e, neste momento, acredito que eu já tenho uma visão mais clara sobre todos. Não sei que não seria muito legal falar os nomes, então, mantive as iniciais de cada um.

Hosts
T: É a pessoa com quem sempre me comuniquei via email desde o início. Claro, objetivo, quase sempre bem humorado, ao mesmo tempo que é o mais atencioso e amoroso, é o mais exigente e severo com as crianças. Costuma conversar comigo, mesmo qualquer besteiras do dia a dia, o que eu acho legal. É uma pessoa sensata apesar de usar blusas sociais com fechos do Mickey Mouse.
Notas atuais: "Sensato" é a imagem que ele tenta sempre transparecer, para manter uma posição "inabalável", mas algumas atitudes mostraram que não é bem assim. Numa discussão com a esposa no fim de um jantar, ele derramou todos os restos de comida chinesa nela na frente de todo mundo porque ela se recusava a se calar frente a "ordem" dele. O ato foi de uma agressividade tremenda, mais psicológica que física. Ah, ele é o responsável pelo terrorismo com as crianças durante os jantares em que muitas vezes alguma delas terminam chorando.

(Essa casa tem uma atmosfera muito pesada pra mim... )
 
M: Sempre séria, basicamente só fala comigo pra me orientar, corrigir e ordenar. É verdade que ela fica menos tempo em casa então naturalmente falo menos com ela.
Notas atuais: Por fim, ao chegar num momento em que faço tudo quase perfeitamente (só me engano ou esqueço algo de vez em quando), minha relação com ela até melhorou. Ela sorri de vez em quando...

Kids
Q (7 anos): Ainda é criança, então preserva coisas fofas de criança. Ingenuidade, amabilidade, carência de carinho e atenção. Ele já é um garotinho, fala inglês, então já conversamos, é bem legal. Por ser o mais novo, é a criança com quem mais convivo da casa, ainda bem. No entanto, ele é acostumado com au pairs. Resultado:  adora ter quem faça tudo pra ele, ainda que tenha suas pequenas tarefas; adora dizer o que eu tenho que fazer, pedir etc, o que me chateia um tanto às vezes (a essa altura já sei quase sempre o que tenho que fazer, não preciso mais que ele fique repetindo, é irritante, mas ele gosta).
Notas atuais: Conceitos como o de que eu venho de uma terra "inferior" já são claramente embutidos na cabeça dele. Um dia desses ele caiu da bicicleta e ao tentar reanimá-lo para seguir em frente e entrar na escola, disse a ele que era completamente normal que uma criança caísse, que todos caiem e que eu já tinha caído muito quando criança. O que eu ouço? "Mas isso foi lá na sua terra! Não aqui!". Sad.

A (11 anos): Tão bonitinha... mas é a criança mais "seca" que já conheci. Segue muito bem as regras da casa e briga bastante com os irmãos quando não querem cumprir. Percebo que o pai (T) é o grande ídolo dela. O que ainda me identifico com ela é o apetite! hehe Ela ainda é a única que prova algumas coisas que eu faço, como pudim e brigadeiro.
Notas atuais:  Mais tarde, soube que a A. tinha assumido maior responsábilidade sobre o Quinten quando eles estavam sem Au Pair, o que justifica a posição dela de constantemente repreender o irmão. Tive boas conversas com a Aspelin de uns tempos pra cá, às vezes ela pergunta coisas do tipo "Você acredita em Deus?", mas percebo que isso não muda em nada minha relação com ela. Ela continua seca e distante.
C (13 anos): Não convivo tanto com ela, por ser a mais velha e já fazer quase tudo sozinha, mas é legal. É mais sensível, emotiva e tá numa fase "pré-adolescência", chorando pelos namoradinhos, tendo notas baixas na escola.
Notas atuais: C. é a mais velha e por isso já incorporou muito mais da maneira de agir dos pais, o que não é bom...

E quando me perguntam sobre a família, por muito tempo respondi que eles eram "ok". No entanto, no meu último mês, eu já tenho certeza de que não viveria aqui nenhum dia a mais. Percebo que evitei trocar de família por questões burocráticas que julguei complicadas por muito tempo e hoje vejo que teria sido uma boa opção e não tão difícil quanto parecia. Achava que seria difícil enfrentar uma readaptação, mas, galera, difícil é viver com quem você não gosta por um ano, isso sim é difícil!

Eles são pessoas muito diferentes de mim, não só por serem holandeses, mas pela maneira que vivem. Adoram os Estados Unidos e a cultura norte-americana (sabem que agora como McDonalds toda sexta-feira né? Nem sei há quantos anos eu não comia antes de vir pra cá). São muito consumistas e arrogantes. Apesar de eu ser a quinta au pair da casa, eles ainda me olham como um alienígena em vááários momentos. É um saco! Não os interessa saber muito sobre mim ou o Brasil ou experimentar novas comidas, novas maneiras de fazer algo. Intercâmbio cultural? Só pra mim mesmo.
Ao conversar com as antigas au pairs, vi que o meu relato só se repete. Muda sim quando converso com a primeira au pair, mas ainda assim ela reconhece toda essa visão materialista e pouco "humana" da família.

Como hoje eu já me acostumei com a maneira que as coisas funcionam por aqui, já tô quase acostumada com quase isso tudo, então, me irrito menos, começo a ser indiferente a isso. No começo, o que mais me chateava era a maneira de olhar. É muito difícil conviver com esse tipo de olhar diariamente! (em que vc se sente alienígena ou sente que te olham como alguém inferior. Por vezes, penso como meu exemplo de choque cultural é algo tranquilíssimo em relação a casos mais dramáticos de imigração mesmo, como os negros imigrando forçadamente para um outro país, sendo mal tratados, imagina o que essa galera passou).

Minha avaliação: é uma família razoável pelo que ela oferece (salário e benefícios), mas a convivência é difícil e você engole e se irrita diariamente com as atitudes de todos.

Ah, devo lembrar que tudo isso envolve uma convivência de trabalho e de "família" (diária, mais cansativa). Eu sinto esses olhares, por exemplo, muito raramente na convivência entre amigos. Acho, na verdade, que tudo é tratado com mais leveza, menos seriamente e é muito mais fácil uma diferença de comportamento provocar uma risada do que um olhar hostil.

Outra observação é que eles são um exemplo de família holandesa, não um modelo né. Então, existem famílias bem diferentes por aqui...

Enfim, espero que tudo que vivi possa me fazer crescer de alguma forma e contribua para que eu seja uma pessoa melhor. Reconheço também as pessoas especiais que encontrei por aqui e hoje não consigo imaginar outra história holandesa que não ao lado delas. =)
Enquanto termino os rascunhos que comecei sobre viagens e vivências aqui na Holanda, vou tirar o mofo do blog postando vídeos, textos e tudo mais que eu encontre com algum valor, no intuito de não perder os links ou registros do que vejo de interessante pela Internet.

Pra começar, um vídeo falando sobre o 11 de setembro chileno, tão lamentável quanto o norteamericano, mas infelizmente tão menos lembrado pela imprensa em geral. O vídeo é narrado por um chileno exilado em Londres.

http://www.youtube.com/watch?v=7vrSq4cievs&feature=player_embedded

25/02/2012

Olá amig@s,
Passei um bom período sem postar nada (preguiça é o cão!), mas li umas coisas num blog de uma au pair sobre uma viagem pra Islândia (terra da Björk) e fiquei novamente motivada. Até porque tenha certeza que eu vou adorar ler esses textos quando esse período passar...

A ideia é contar das viagens recentes e até mesmo das que já passaram há um tempo. Não sei se vou cumprir a meta, mas começarei hoje e este já é o primeiro passo. :)

Bem, esta semana meus hosts me deram dois dias livres assim "do nada". Na verdade, à princípio eu achava que trabalharia todo dia e toda hora esta semana porque as crianças tão de férias da escola e, portanto, quase o dia todo em casa... mas não, terça-feira fiquei sabendo que teria dois dias livres, quarta e quinta! Putz, em cima da hora... o que fazer? Não podia ficar em casa!

Lembrei de uma ideia que vinha na cabeça há uns tempos... ir pra Cologne, cidade alemã a 1h daqui onde mora uma amiga brasileira e pra onde sempre pipoca de "caronas"!
OBS.: conheçam: http://www.mitfahrgelegenheit.de/ , site alemão pra quem quer buscar ou compartilhar transporte de um lugar pra outro. Portanto, se você tem carro e não quer viajar sozinho, quer economizar na gasolina com a contribuição de outras pessoas e ainda conhecer gente legal, se cadastra lá! Quem quer participar também! E todo mundo fica feliz no fim porque é a forma mais barata de ir de um lugar pra outro por aqui. O movimento não é tão forte na Holanda, mas já me disseram que tem algo assim por aqui também, vou caçar.
De um dia pro outro encontrei um couch (CouchSurfing), carona de ida e volta pra Cologne. Então, neguinha, tinha que ir!!! hehe  E valeu muito a pena!

Cologne 

A carona de ida peguei em Aachen, uma cidade alemã vizinha de Heerlen, e um dos alemães no carro já tinha passado um ano estudando no Brasil, o que gerou bastante conversa.
Ah, detalhe: as autoestradas alemãs não tem limite de velocidade e você vê vários carros passando ao lado e fazendo zuuuuuum! Meio doido isso! Na Holanda, o limite é 120km, que é tranquilo. ^^
Cheguei quase no fim da tarde , visitei a Catedral, que ficava ao lado da estação principal de trem, comprei um mapa e pouco depois fui para a casa da menina do CS deixar minha mochila e decidir o que faria.
Ela me recebeu super bem, era muito gente boa, mas tava atolada de trabalho e não podia me dar atenção por muito tempo. Ainda assim me deu várias dicas sobre o que fazer na cidade e isso foi realmente útil! A sorte foi que a Joelma, minha amiga brasileira, me ligou e chamou pra dormir na casa dela e passear no dia seguinte, portanto, a melhor decisão foi justamente essa.
Fui, tivemos uma ótima noite de conversa e programamos o que faríamos no outro dia. Incrivelmente, fizemos tudo o que programamos, na tranquilidade, aproveitando tudo e tendo conversas incríveis!
Começamos pela ponte dos cadeados, que ganhou esse apelido há pouco tempo, depois de vários casais apaixonados trancarem cadeados na ponte com seus nomes ou iniciais gravadas e jogarem a chave no Rio Reno como símbolo de amor eterno. Lindo né? É mesmo! A ponte ficou super charmosa com a ideia e é bem legal ver os diferentes tipos de cadeados que se encontra por lá. É bom salientar que a ideia começou numa ponte na Itália e se estendeu por outras pontes pelo mundo.



Seguimos caminhando por um parque bonitinho à beira do Reno...
 Encontramos um parque legal no caminho...
 E mais outro, um parque de esculturas muuuito massa! Eu e Joelma levamos um carão imenso por tirarmos várias fotos interagindo com as esculturas! É isso ai, estávamos mostrando nossa brasilidade mundo afora hahahahahaha (detalhe: a segunda escultura da foto era feita de algum metal, afixada no chão, mas ela se movimentava com o vento, era bem estranho ver... hehe)
Seguimos, então, para nosso último destino do dia: o Centro de documentaçao da NS. 
Logo que chegamos fomos conhecer os andares no subsolo, que na verdade seriam parte do final da rota de visita, se tivéssemos seguido a ordem desde o início. Depois percebi, então, porque eram a parte mais tocante da visita... 
Sabe, lá não era só um lugar que abrigava uma documentação específica com fotos, textos, mapas, enfim, lá era o lugar que tinha abrigado parte da história que estava sendo contada. O andar em que começamos a visita continha inúmeras celas onde pessoas haviam sido aprisionadas e torturadas durante a Segunda Guerra. Além de fotos das escrituras mais deterioradas, podíamos ver celas com desenhos e escritos ainda conservados nas paredes (estas celas eram protegidas por um vidro e não se podia entrar). 
Pessoal, ler a história dessa gente e acompanhar isso tudo é bem intenso sabe... Ver ambiente, a energia preservada  pela conservação do local em que tudo aconteceu. 
Essa foi a parte que eu mais gostei. Acho que saber os relatos individuais e a história de cada um é sempre o mais interessante pra mim, o mais palpável.
De alguns prisioneiros, só veríamos frases soltas que expressavam a agonia (de serem aprisionados, mas não serem interrogados), a falta de liberdade (muitos eram jovens), as condições do lugar (as celas das fotos podiam ter até 30 pessoas e assim eles mal conseguiam se sentar), da (dos restos de) comida e de falta de higiene (alguns passaram em torno de um mês sem um banho sequer, diziam que só lhes davam banho quando já estavam "sujos como porcos"). 
De outros, podíamos obter mais informações, sobre o que aconteceu antes de depois de chegarem ali, se a família tinha algum envolvimento político com o comunismo (lembro de um menino que foi capturado panfletando e que a mãe sempre ia levar sanduiches pra ele. No relato, tinha até uma frase do tipo "se ninguém mais lembrar de você, sua mãe lembrará"), se escaparam do lugar (em outro caso, o prisioneiro casou, constituiu família e morreu há poucos anos), para onde fugiram etc.
Havia uma sala que mais parecia um velório, com algumas flores brancas já secas no chão, no canto de uma parede onde o nome, a data de nascimento e de morte dos prisioneiros eram projetados e se ouvia um breve relato sobre cada um.
Enfim... vocês tão sentindo o feeling né?
Esqueci até de dizer que eu e a Joelma alugamos um guia de áudio. Foi bom para acelerar um pouco a visita e evitar que nós duas conversássemos muito,além de que cada uma seguia seu ritmo. Gostei bastante e acho que isso vai ser sempre válido de hoje em diante. Portanto, a visita ficou bem mais produtiva, mas era tanta informação que se tornou difícil de "gravar". 
Aí vão as fotos: 

















Então, é isso. Acho que próximo post vai ser sobre o Carnaval holandês. =)
No mais, (na medida do possível) tá tudo em paz.
Abraços!